segunda-feira, 27 de julho de 2015

Informação falsa sobre as bebidas alcoólicas

A informação falsa sobre “benefícios das bebidas alcoólicas” é uma verdadeira pandemia na internet. O alcoolismo já é por si só um problema que dispensa qualquer contributo publicitário e muito mais agora com esta manipulação falsa, insidiosa e manipuladora.

Uma substância é benéfica para a saúde das pessoas quando pode ser usada por todas as pessoas. O exercício físico pode ser aconselhado a todas as pessoas; as vitaminas são úteis para todas as pessoas; os legumes são necessários a todas as pessoas; as bebidas alcoólicas NÃO! A insinuação sobre os benefícios das bebidas alcoólicas incorre, no mínimo, numa falta grave: a generalização.


Cientificamente, relativamente às bebidas alcoólicas, nos seus efeitos no organismo e na saúde humana, no cérebro e no coração, em doses "moderadas" e nos indivíduos adultos, que não estejam grávidas ou a amamentar, que não conduzam máquinas, que não sejam portadores de doenças incompatíveis com o álcool e que não estejam a consumir medicamentos incompatíveis: as ditas não fazem bem nem mal!

Colocar as bebidas alcoólicas num patamar de equivalência aos alimentos essenciais à saúde das pessoas e generalizá-las como úteis a todos os indivíduos é perverso, manipulador e totalmente censurável.

Até há uns tempos atrás a desconfiança incidia sobre as indústrias de bebidas alcoólicas ávidas por fintar algumas restrições publicitárias legais para tentar alcançar os mais jovens e as mulheres como novos consumidores. Esta indústria cresceu imenso e os seus lucros agora permitem-lhes fazer imensos patrocínios e com grande visibilidade, como é o caso de equipas desportivas de futebol, alcançando desta forma, de novo, todas as faixas etárias.

A habilidade destas indústrias foi também compensada com uma mensagem de “moderação” nos horários que lhes permitem fazer publicidade nos suportes televisivos; e para os horários impeditivos inventaram uma cerveja “sem álcool” de forma a poderem publicitar do mesmo modo a sua marca, o seu nome e logo.

Mais recentemente, sites com "estudos universitários" de instituições conhecidas internacionalmente começaram a invadir as redes sociais. Estes sites comerciais de pequenos negócios proliferam aos milhares e são partilhados facilmente por pessoas que por diversas razões são levadas a acreditar nas suas teses. Criam imagens gráficas, e até vídeos, com frases cativantes para atrair especialmente os mais jovens. Quando o utilizador entra nestes sites e blogs, é criado o cenário para vender publicidade. Através do número de visualizações alcançadas essas empresas pagam ao indivíduo que produziu a informação.

É desta forma que uma pequena “tasca on-line” se converte numa empresa lucrativa. Consegue-o à custa de uma qualquer notícia populista, conveniente, com uma verdade distorcida e do uso abusivo do nome de uma instituição prestigiada. 

Faça uma experiência: quando descobrir um desses sites a promover as bebidas alcoólicas como benéficas para a saúde, abra, dê um ou dois cliques nesse site e depois regresse ao facebook. Verificará facilmente que a publicidade na coluna lateral direita terá mudado para um anúncio relacionado com um produto do site que consultou anteriormente e que produziu a “informação isco”.

Nos países “desenvolvidos”, em Portugal inclusive, fazer publicidade associando o álcool a efeitos benéficos para a saúde é proibido por Lei. (Decreto-lei nº 330/90, de 23 de Outubro e Decreto-Lei nº 332/2001, de 24 de Dezembro). Mas, mesmo que não fosse assim, hoje em dia, a internet é um meio de utilização bastante barato, com um potencial de alcance imprevisível. Com o contributo dos "cookies" a espiar as nossas preferências por onde quer que andemos a vasculhar, os mais habilidosos somam vantagem sobre os restantes.

Porque as pessoas partilham esta informação falsa?

Os mitos sobre as bebidas alcoólicas já vêm de longe: o álcool dá força; o álcool aquece; o álcool é um alimento, etc… As organizações públicas e privadas, especialistas e técnicos, que lidam com estas questões nunca conseguiram remover estes falsos conceitos populares, nem irão consegui-lo. Estes mitos continuarão a atravessar gerações e tenderão a multiplicar-se com novas formas publicitárias de abordagem. Esta informação manipulada visa especialmente as preocupações das pessoas nas áreas da saúde mental, problemas do coração e emagrecimento, preocupação muito em voga hoje em dia. Quando surgir uma nova tendência de preocupação social, logo, o álcool será apresentado como a substância mais adequada para lhe dar resposta. Contudo, o álcool nunca será uma resposta para o problema do alcoolismo e esse, tem potencial para crescer com mais este contributo falso!

As razões porque as pessoas partilham inconscientemente estas informações armadilhadas serão várias:

- Em questões de saúde as pessoas partilham aquilo que lhes parece ser verdade;
- As pessoas partilham aquilo que entendem que os seus amigos irão gostar;
- Partilham para justificar o seu comportamento de consumo;

Ao contrário, porque as pessoas não partilham informação de fontes credíveis?

- Investigar um assunto de saúde só é prioritário quando nos afecta pessoalmente;
- Não é um assunto popular;
- As pessoas têm receio de serem rotuladas “anti-álcool”.

A internet não tem fronteiras e o mundo transforma-se a cada dia numa aldeia única. Apenas os homens e as mulheres de boa vontade podem fazer frente aos malefícios que as novas tecnologias trazem à sociedade. Mais uma vez, confirma-se que cada época tem a sua classe de vigaristas que se aproveitam dos espaços deixados em vazio pelos legisladores. Esta forma corrupta de atrair pessoas para estas “tascas caseiras” só será travada se um punhado de heróis denunciar mais esta chaga social ou se a mesma se tornar excessivamente tão absurda a ponto de os estragos causados por esta má informação começar a causar danos demasiado visíveis.

Samuel Dias.

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