quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Resvesterol e os seus efeitos benéficos


O resveratrol anda nos copos de vinho e na boca do povo. E é muito certo que assim possa ser, excepto que seja necessário juntar-lhe álcool para que possa produzir “benefícios”.

Ao investigar durante algumas horas esta questão, apercebi-me também que esta substância está erroneamente na cabeça de muitos relacionada com o vinho, ideia provocada pelas indústrias de bebida, as quais, por sua vez a tornaram popular. Ora bem, resveratrol é uma molécula saudável e o álcool é uma substância tóxica, o vinho contém ambas.

As indústrias e o comércio das bebidas alcoólicas deliciam o interesse dos consumidores com este “benefício” aproveitando o facto de que as pessoas não querem envelhecer, não querem engordar ou ter problemas de coração. Acrescentam ainda que para que esses benefícios produzam efeito é necessário “beber com moderação”. É desta forma que “tapam o sol com a peneira” promovendo um efeito benéfico para minimizar o efeito tóxico.

A maioria dos textos que li refere-se ao resveratrol como “molécula existente na uva roxa e no vinho tinto” induzindo a pessoas a acreditar que ambos, a uva e o vinho, produzem esse milagroso remédio para todos os males, quando na verdade ele tem apenas uma origem, a vegetal. Por curiosidade, se por exemplo, eu associar a uma imagem de um copo de vinho ao nome deste artigo “resveratrol e os seus efeitos benéficos”, em vez de um vegetal (como imagem), conseguirei mais leitores!

Nenhum desses famosos estudos sobre os “benefícios do vinho” remete os consumidores para o consumo das frutas e vegetais, que contêm o mesmo resvesterol e alguns deles até 100 vezes com mais concentração que a da própria uva roxa. Estamos portanto perante uma falácia cujo objectivo é confundir o público atribuindo ao vinho um virtude e a origem de uma molécula que na verdade não foi gerada nele.

Somos forçados a concluir, para já, que os vendilhões deste elixir da juventude não se entendem. Mas as investigações não se ficam apenas pelos que gostam destas matérias para divulgar as bebidas alcoólicas, por exemplo:

“Provar vinho tinto ou comer chocolate ou uvas almejando conseguir um pouco mais de Resveratrol talvez não o ajude a viver uma vida mais longa e saudável. Embora se saiba que este químico prolonga a vida útil do fermento (levedura) e melhora a saúde em animais de laboratório, os cientistas não encontraram um vínculo entre metabólitos de resveratrol na urina, nem em inflamações, doença cardiovascular, cancro ou longevidade de seres humanos. O resultado sugere que a quantidade de resveratrol consumida com uma dieta ocidental não tem uma influência substancial sobre a saúde humana ou um risco de morte. Relata a equipa em 12 de maio na JAMA Internal Medicine."

Consulte: https://www.sciencenews.org/blog/science-ticker/red-wines-resveratrol-not-linked-healthier-life


Uma vez por outra vem "ao de cima" alguns artigos mais coerentes mas estes, infelizmente, não acolhem muita simpatia por parte do grande público para beneficiar de muitas partilhas nas redes sociais: http://lifestyle.sapo.pt/saude/noticias-saude/artigos/afinal-o-vinho-tinto-nao-faz-assim-tao-bem-a-saude

A melhor conclusão que podemos extrair é que a indústria e o comércio das bebidas alcoólicas não são honestas quando exacerbam substâncias em favor da saúde se na verdade o seu contributo benéfico é ínfimo ou mesmo nulo. Desta vez teremos que acrescentar alguma suspeita sobre a indústria farmacêutica que também invade o mercado com inúmeras marcas de comprimidos com resveratol.

A única conclusão segura relativamente ao consumo de vinho é que, ingerido por pessoas saudáveis ou que não estejam nos grupos de risco* do seu consumo, um copo de vinho às refeições, não faz bem nem faz mal.

Estão absolutamente corretos os países que contém na sua legislação sobre a publicidade, a proibição para que não se atribua às bebidas alcoólicas qualquer suposto benefício terapêutico.

Samuel Dias

*Grupos de risco de consumo de álcool: crianças e adolescentes, doentes com patologias psíquicas, doentes alcoólicos, condutores de máquinas, mulheres grávidas e a amamentar, pessoas em convalescença e no uso de medicamentos incompatíveis com o álcool.

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