quinta-feira, 17 de março de 2016

Considerações gerais sobre o álcool



O alcoólico pode contrair problemas circulatórios e apresentar feridas por todo o corpo. Nessa altura, ele já está familiarizado com os hospitais. Indubitavelmente, já teve a experiência de entrar em colapso e ser levado a um pronto-socorro, onde o trataram como melhor puderam.

Tratar alcoólicos é uma das tarefas mais ingratas para os médicos e outros agentes que lidam com eles. Abusaram dos seus corpos de um modo tão terrível que agora é muito complexo o seu tratamento e resultados positivos visíveis. Quando recebem alta hospitalar invariavelmente voltam à garrafa e continuam o processo de autodestruição.

Ainda mais perturbador que a ruína física do alcoólico é o modo como sua mente se deteriora sob o abuso contínuo do álcool. Todos os que lidam com este problema vêm o efeito do álcool em qualquer classe ou extracto social: bancários, advogados, médicos, políticos, pastores, etc....

Certo ex-médico, 
que acabou por morrer numa instituição pública, tinha o cérebro e a sua personalidade tão afectados por causa dos seus encontros contínuos com a bebida que não conseguia viver fora da instituição. Este homem, que já fora útil à sociedade e altamente respeitado e amado em sua comunidade, não podia nem mesmo ser usado como enfermeiro na instituição em que passou seus últimos anos de vida. Porquê? Por causa da deterioração mental.

A possibilidade de descer ao fundo assusta qualquer indivíduo do terceiro estágio em diante e também muitos dos bebedores sociais e habituais, que ainda não beberam o tempo suficiente para se viciarem. Felizmente, o indivíduo não tem que chegar ao ponto da deterioração orgânica para se libertar da escravidão da bebida. Em qualquer ponto da descida ele pode enfrentar-se a si mesmo e à sua situação e lançar fora as algemas do vício.

Quanto mais cedo o indivíduo chegar a essa compreensão e procurar ajuda, menos domínio o álcool terá sobre ele e mais fácil será libertar-se. Não é impossível a pessoa libertar-se no estágio final do alcoolismo, pois nada é impossível para Deus. Mas os seus problemas serão muito menos graves se procurar ajuda mais.

Por exemplo, certo professor de música de um grande ginásio, quando nos veio procurar, tinha sido alcoólico durante um ano e meio. Trabalhar com ele foi muito diferente do que com os alcoólicos com dez ou quinze anos de dependência pois ele reagia ao tratamento e às sugestões com muito maior rapidez.

Infelizmente, nada podemos fazer pelo alcoólico até que ele deseje receber ajuda. Podemos reconhecer todos os sintomas e saber do que o indivíduo precisa, mas não conseguimos chegar até ele a não ser que ele decida receber auxílio. Já cheguei ao ponto de recusar conversar com a pessoa que não deseja minha ajuda.

Um pastor veio ver-me certa ocasião e instou comigo a que visitasse certa família na qual o marido era alcoólico. Tentei explicar que minha visita seria infrutífera, a não ser que o homem desejasse receber ajuda, mas, quando a esposa me implorou que o fosse ver, concordei. Gastei metade da manhã tentando conhecê-lo e desenvolver uma certa relação, porque queria que ele confiasse em mim. Quando, finalmente, ele começou a abrir-se e nos encontrava-mos numa conversa bastante amigável acerca do seu problema e do facto de haver uma solução, a esposa entrou na sala irritou-se com algo que o marido disse e começou a destratá-lo na minha presença. Isso acabou com minhas esperanças de o alcançar. Foi uma situação miserável e embaraçosa e logo me despedi deles.

Neste caso o homem não estava pronto para receber ajuda, não a desejava e me procurou. Assim, quando fui procurá-lo em casa, não tínhamos a privacidade e empatia necessárias. Além do mais, não tive a oportunidade de conversar com a esposa, logo eu não sabia o que poderia esperar dela. Consequentemente, quando ela repreendeu o marido na minha presença eu nada podia fazer. É claro, percebi que ela provavelmente havia atingido o ponto de não mais poder se conter. Toda a sua humilhação, o seu passado pesaroso e o seu temor presente, finalmente explodiram. Entretanto, tenho certeza de que a minha visita foi um empecilho e não a ajuda que desejávamos.

O alcoólico deve atingir um ponto de crise na vida antes que esteja aberto à orientação e ajuda. Na linguagem popular, ele tem de chegar "ao fundo do poço". O fundo do poço pode ser diferente para cada pessoa.

Certo advogado, bastante conhecido, estava na fase pré-alcoólica quando atingiu o fundo. Ele, quando sóbrio, era uma pessoa que se vestia bem, sério, de boas maneiras, enfim, o oposto de quando estava ébrio. A sua esposa tentou dizer-lhe quão ridículo ele se tornava ao beber demais, mas não acreditou nela. Assim, numa festa, ela pediu que um amigo levasse uma câmara de vídeo e o filmasse. Quando ele voltou à sobriedade, mostraram-lhe o filme. Não voltou a ingerir qualquer bebida de novo.

Vários estudos demonstram que apenas 3 a 12 por cento dos alcoólicos crónicos vão viver na rua. A grande maioria vive nas suas comunidades, protegidos pela família e, ocasionalmente, pelos companheiros de trabalho.

Com medo de encarar a vida, ocultam-se nas suas prisões de vergonha pois não têm para onde ir. A maioria nem mesmo admite ter problemas. É preciso que sejam sacudidos por algo que os faça atingir o fundo e comecem a procurar respostas.

Às vezes o indivíduo atinge o fundo ao perder o emprego pela primeira vez e ao ver a esposa, os filhos e a si mesmo sem um meio de sustento. Pode ser que ele chegue ao fundo quando os filhos reconhecem e resolvem enfrentar o problema conversando em família sobre o assunto.

Certa mulher veio a meu escritório, desesperada, depois de uma experiência assim. Ela chegara a casa com uma caixa de cerveja. O seu filho com doze anos de idade, caindo de joelhos, agarrou-lhe as pernas e clamou: Oh, mãe, mãe, por favor, não beba isso! Você faz ideia o quanto essa bebida lhe faz mal!" As palavras do filho levaram-na tão fundo que começou a procurar ajuda.

Outra mulher veio ver-me por causa do marido.
"Já disse àquele homem centenas de vezes que vou deixá-lo se ele não parar de beber".
"Já o deixou?" – perguntei-lhe.
"Ainda não".
"Bem, deixe-o desta vez".

Quando o marido voltou para casa e descobriu que ela havia ido embora, ficou apavorado e percebeu que tinha de procurar ajuda. Até àquele instante ele pensava que a mulher estivera brincando. Ele nunca tinha admitido ter um problema com a bebida, mas agora sabia que tudo quanto tinha na vida, e que valia a pena conservar, desapareceria, a menos que encarasse o problema e buscasse respostas. Consequentemente, ele começou a procurar um modo de sair da sua dificuldade.

Extraído de "Alcoólicos Vitoriosos"

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